Predestinação e Pré-conhecimento: Comentário sobre Romanos 8.29

O site Arminianismo.com tem um texto, que é um comentário sobre Romanos 8.29, que fala de presciência ou pré-conhecimento. Veja, abaixo, o texto ou, se quiser ver o original, siga aqui




8.29 Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. Aqui Paulo conta mais detalhes sobre o propósito de Deus. Ele afirma exatamente o que é este propósito (v. 29b), e resume os meiospelos quais Deus irá realizá-lo: através do ato do pré-conhecimento e do decreto da predestinação. A relação entre este ato e este decreto podem muito bem ser a mais controversa e importante questão exegética do livro de Romanos.[1]
A palavra “predestinou” combina horizo, “determinar” (veja 1.4), e pro, “antes,” resultando em proorizo. Ela significa “determinar de antemão, predeterminar, preordenar.” A tradução “predestinar” sugere a nuance “predeterminar o destino de.” Quando usado a respeito de pessoas com referência à salvação, ela está intimamente relacionada com o conceito de eleição (v. 33). O prefixo pro indica que a determinação em vista aconteceu antes que o mundo foi criado (veja Ef 1.4; Ap 17.8).

Neste versículo a predeterminação do destino de um indivíduo é o ponto. Deus predeterminou que aqueles que ele pré-conheceu seriam um dia “conformes à imagem de seu Filho.” Isto é frequentemente tomado como fazendo referência a nossa recriação espiritual à imagem moral de Deus conforme perfeitamente incorporado em Jesus Cristo. Como tal, ela incluiria nossa presente e contínua santificação.[2] Mas este não é o ponto. Neste contexto a ênfase está em nossa herança final, a glória escatológica do corpo redimido (vv. 11, 23). “A imagem de seu Filho” faz referência ao fato de que nossos corpos na ressurreição serão como o de Cristo. O pensamento e linguagem é o mesmo de Fp 3.21, que diz (literalmente) que nosso corpo será “conforme ao corpo da sua glória.” Veja também 1Co 15.49; 2Co 3.18.[3]
Esta interpretação é confirmada pela referência a Cristo como “o primogênito entre muitos irmãos.” Em Cl 1.15 “primogênito” significa a preeminência exclusiva de Cristo, mas o ponto aqui é que ele é “o primogênito dentre os mortos” (Cl 1.18; veja Ap 1.5), isto é, o primeiro a ser ressuscitado dos mortos em um corpo glorificado. (Veja At 13.34; 26.23; Rm 6.9; 1Co 15.20.) Como tal, ele é o primeiro “entre muitos irmãos,” isto é, entre muitos outros que também serão ressuscitados em corpos glorificados para constituirem a família eterna de Deus. Isto será, como diz Dunn, “uma nova raça do povo escatológico em quem o desígnio de Deus desde o início da criação é finalmente cumprido” (I:484).

Isto é o que foi predestinado: nossa salvação final, nossa conformidade ao corpo da ressurreição de Jesus, nossa herança de glória. Em outras palavas, até mesmo antes do mundo ter sido criado, Deus já tinha predestinado que alguns indivíduos iriam para o céu, e que o restante iria para o inferno. É importante ver que tal predestinação se aplica a indivíduos específicos e não apenas a um plano ou um grupo impessoal. (Veja Gru, 338-43.) Até aqui podemos concordar com o Calvinismo.

Mas então vem a questão crucial: em que base Deus assim nos predestina? Aqui é onde os não-calvinistas se separam dos calvinistas e outros agostinianos. Para os últimos, a predestinação divina de certos indivíduos para a salvação é uma eleição incondicional. Antes da criação, eles dizem, em um decreto eficaz e todo-abrangente, Deus projetou em detalhes tudo que ocorreria dentro do universo criado. Ele decidiu que criaria X número de seres humanos, e unilateral e incondicionalmente determinou que alguns destes seriam eventualmente participantes de sua família celestial, e que o restante não.

A palavra chave aqui é incondicionalmente. Isto é, para os calvinistas, quando Deus estava predeterminando quais indivíduos iriam para o céu, Sua decisão não foi contingente a se ou não estes indivíduos satisfariam certas condições, tais como fé e arrependimento. Deus nunca responde às contingências humanas; isto seria contrário a sua soberania (veja Gru, 217-18). Isto não significa que ele salvará qualquer um à parte da fé e do arrependimento. Significa, antes, que quando Deus predestinou alguns para a salvação, ele não apenas determinou seu destino celestial, mas também determinou que ele soberanamente iria conferir a eles a fé e o arrependimento, que são pré-requisitos para o céu. Ele predestinou não apenas o fim, mas também os meios.

Isto é onde o Calvinismo se equivoca. É bíblico dizer que Deus predestina o resultado final da salvação, o céu; mas é contrário à Escritura dizer que estes indivíduos irão satisfazer as condições para irem para o céu somente porque Deus os predestinou a isso. Deus predestina o fim, mas não os meios. Ele predestina todos os crentes ao céu, mas ele não predestina alguém para tornar-se crente. A salvação é condicional (veja 1.16), e os indivíduos devem satisfazer estas condições por uma escolha de seu próprio livre-arbítrio. Portanto, a própria predestinação é condicional; Deus predestinou ao céu aqueles que ele preconheceu que satisfariam as condições exigidas. (Veja Gru, 343-5.)

Aqui chegamos ao ponto crucial neste versículo, isto é, a relação entre o pré-conhecimento e a predestinação. “Os que dantes conheceu, também os predestinou.” Devemos notar que o v. 29 diz apenas que Deus pré-conheceu certas pessoas; ele não diz especificamente o que ele pré-conheceu sobre elas. Em vista do ensino bíblico sobre a salvação em geral, muitos supõem que Deus pré-conheceu “que eles iriam cumprir as condições da justificação” (Lard, 282). Como Godet coloca (325), eles são “pré-conhecidos como certos de cumprirem a condição da salvação, a saber, a ; assim: pré-conheceu como seus pela fé.”

Esta resposta não é de forma nenhuma desarrazoada, mas eu sugiro que o v. 28 já revelou o objeto do pré-conhecimento de Deus. Não devemos negligenciar a conexão entre estes dois versículos, como se o v. 29 existisse à parte de qualquer contexto. O versículo 29 começa (após a conjunção) com o pronome relativo “quem” (traduzido “aos” na NVI). Como regra geral esperaríamos um antecedente para este pronome, e aqui o encontramos no v. 28, a saber, “aqueles que amam a Deus.” Deus pré-conheceu aqueles que o amariam, isto é, ele pré-conheceu que em algum momento de suas vidas eles viriam a amá-lo e continuariam a ama-lo até o fim. Veja o paralelo em 1Co 8.3, “Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele” (ACF). Esta é exatamente a mesma ideia de Rm 8.29a, embora ele faça referência ao conhecimento contínuo de Deus antes que a seu pré-conhecimento como tal.

Devemos também observar que o v. 29 começa com a conjunção causativa hoti, “pois, porque.” Mais provavelmente ela combina com “sabemos” no v. 28. Assim, o pensamento é bem simples: Sabemos que Deus opera todas as coisas para o bem daqueles que o amam e são chamados para a sua família eterna de acordo com o seu propósito. Como sabemos disto? Porque, tendo pré-conhecido desde a eternidade que eles o amariam, ele já os predestinou a este estado de glória eterna! Dessa forma, podemos estar certos de que as provações temporárias desta vida não são capazes de invalidar o que o Deus Todo-Poderoso já predestinou que irá ocorrer! Antes, ele as usa de forma a nos preparar para desfrutar a eternidade ainda mais.

Os calvinistas obviamente rejeitam esta explicação simples. Em disputa, eles dizem, está o significado da palavra “pré-conhecer” (proginosko). Visto que ginosko significa “conhecer,” e pro significa “antes,” parece óbvio que proginosko significa “conhecer de antemão” no sentido de consciência cognitiva ou mental anterior. Deus certamente tem tal conhecimento prévio. Por causa de sua relação única com o tempo, seu conhecimento não está limitado ao agora; ele conhece o passado e o futuro assim como o presente (GC, 255-9, 279-89). O verbo “pré-conhecer” é usado aqui e em quatro outras passagens no NT: At 26.5; Rm 11.2; 1Pe 1.20; 2Pe 3.17. (O substantivo é usado duas vezes: At 2.23; 1Pe 1.2.) Todos concordam que em At 26.5 e 2Pe 3.17, onde faz referência ao conhecimento humano, ele tem este significado simples de conhecimento prévio ou presciência.

Mas os calvinistas argumentam que em todas as outras passagens nas quais Deus é o sujeito, tanto o verbo quanto o substantivo têm outra conotação, a saber, amor distintivo.[4] Incluídos aqui estão dois conceitos: amar e escolher. Visto que a própria palavra “conhecer” é algumas vezes “quase sinônimo de ‘amar,’ considerar com afeto, conhecer com interesse peculiar, deleite, afeição e atitudes,” pré-conhecimento em 8.29 deve significar “aqueles que ele conheceu desde a eternidade com deleite e afeição distinguidores,” ou “quem ele pré-amou” (Murray, Romanos, 345).[5]
A palavra chave, contudo, é “distintivo.” Para os calvinistas, o pré-conhecimento de 8.29 é um ato pelo qual Deus (incondicionalmente) escolhe algumas pessoas da massa da humanidade futura para serem os únicos receptores de sua graça salvadora. Isto é, o “pré-conhecimento” é o mesmo que “eleição.”[6] Como Moo resume, “A diferença entre ‘conhecer ou amar de antemão’ e ‘escolher de antemão’ deixa virtualmente de existir” (I:569). Para 8.29, Arndt e Gingrich dão a definição de “escolher de antemão.” Newman e Nida traduzem “Aqueles que Deus já escolheu.” Tem a “conotação de graça eletiva,” diz Bruce (177).[7]
Sobre o que os calvinistas baseiam esta definição peculiar de pré-conhecimento? Eles a baseiam principalmente sobre alguns usos bíblicos selecionados dos verbos “conhecer,” nos quais eles encontram as conotações de “escolher” e/ou “amar.” Estes incluem as passagens onde “conhecer” é um eufemismo para a relação sexual, e eles incluem alguns outros usos do NT de yada (hebraico para “conhecer), geralmente Gn 18.19; Êx 2.25; Jr 1.5; Os 13.5; e Am 3.2. Estes textos do NT também são citados: Mt 7.23; Jo 10.14; 1Co 8.3; 13.12; Gl 4.9; e 2Tm 2.19. Visto que “conhecer” em todas estas passagens supostamente significa muito mais do que simples cognição, podemos concluir que “pré-conhecer” em 8.29 e em outras passagens significa muito mais, a saber, “o amor distintivo conferido de antemão.” Dessa forma, “aqueles que ele escolheu de antemão, ele também predestinou.”

Como podemos responder a isto? Fazendo um estudo exaustivo da forma que a Bíblia usa as palavras “conhecer” e “pré-conhecer.” Tal projeto está fora do escopo deste comentário, mas podemos oferecer uma análise concisa.

Em primeiro lugar, as conotações não-cognitivas de ginosko são virtualmente inexistentes no grego secular. Moo admite que a definição calvinista de pré-conhecimento soa “um tanto estranha contra a experiência do uso grego amplo” (I:569).

Em segundo lugar, o uso de “conhecer” como um eufemismo para as relações sexuais não contribui em nada para a visão calvinista, visto que ele se refere especificamente ao ato sexual e não a algum amor que possa estar associado a ele. Ademais, o ato de “conhecimento” sexual não inclui de forma alguma a conotação de escolher, mas mais propriamente pressupõe que uma escolha distintiva já foi feita (pelo casamento). Finalmente, o uso de “conhecer” para este ato está muito mais próximo de cognição do que de amar ou escolher; ele implica um conhecimento cognitivo do mais íntimo grau.

Em terceiro lugar, os textos bíblicos onde “conhecer” e “pré-conhecer” parecem ter uma conotação de amor ou afeição (p.ex., Êx 2.25; Os 13.5) não provam nada, pois eles geralmente não especificam a razão para o conhecimento-amor de Deus, e certamente não sugerem que foi incondicional. De fato, 1Co 8.3 parece dizer que é condicional: “Se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele.”

Em quarto lugar, uma análise dos textos do NT onde as palavras “conhecer” têm pessoas como objetos, isto é, onde a ação de conhecer é especificamente direcionada a pessoas e não a fatos como tais, mostra que em tais casos estas palavras nunca têm a conotação de “escolher” ou “impor uma distinção.” Isto se aplica a ginosko(usado cerca de 52 vezes desta forma), epiginosko (cerca de 15 vezes), e oida (cerca de 43 vezes).

Essa análise fornece muitos insights úteis ao significado do pré-conhecimento de Deus. Em ordem de especificidade crescente, as três conotações básicas de “conhecer uma pessoa” são como segue.

(1) Identificação. Neste caso, “conhecer” significa reconhecer alguém, conhecer quem ele é, saber sua identidade ou sua verdadeira identidade, ser capaz de identificá-lo por quem ele é, conhecer ou estar familiarizado com ele, entendê-lo, conhecer sua verdadeira natureza. Esta é de longe a mais comum conotação.[8] É um ato puramente cognitivo. Não impõe uma identidade sobre alguém, mas percebe essa identidade. Isto inclui a ideia de reconhecer alguém como pertencendo a um grupo particular, em distinção àqueles que não pertencem. Este é o sentido em que Jesus “conhece” suas ovelhas (Jo 10.14, 27), inclusive como as suas ovelhas o conhecem (Jo 10.14; veja 2Tm 2.19). Esta é a conotação de “conhecer” que se aplica a “pré-conhecer” em 8.29.

(2) Reconhecimento. Aqui “conhecer” significa não apenas ter um conhecimento cognitivo da identidade de alguém, mas também admitir ou reconhecer essa identidade. Como tal é um ato da vontade, embora pressuponha um ato de cognição. A coisa mais importante é que este reconhecimento não impõe uma identidade particular sobre alguém, mas simplesmente a confessa.[9]
(3) Experiência. A terceira e mais intensa conotação de “conhecer” quando uma pessoa ou pessoas são seu objeto é conhecer experimentalmente, experimentar uma relação com alguém. Novamente, pressupõe cognição, mas vai além disso. Mais significativamente, tal conhecimento não é um ato que inicia uma relação, mas simplesmente a experimenta. Esta conotação é encontrada especialmente em 1 João.[10] Mt 7.23; 1Co 8.3 e Hb 8.11 poderiam ser (1) ou (3).

Em cada caso o ato de conhecer não cria a identidade de uma pessoa ou sua distinção de outras pessoas. Antes, ele pressupõe uma identidade ou distinção já existente; o ato de conhecer percebe e em alguns casos reconhece essa identidade ou distinção. Estas conotações para conhecer se ajustam ao termo “pré-conhecimento” muito bem como ele é usado em 8.29 e em outras passagens. Aqueles que Deus desde o princípio identificou e reconheceu como seus, ele predestinou para serem membros de sua glorificada família no céu. (A conotação de experimentar uma relação não reproduz bem o conceito de pré-conhecimento, visto que o pré-conhecimento como tal precede a existência de seu objeto, impossibilitando uma relação experimentada.)

Em todo caso, uma análise de todos os usos de “conhecer” com pessoas como objeto mina a noção que significa “escolher,” e dessa forma não apoia a ideia calvinista que o pré-conhecimento é o mesmo que eleição ou escolher de antemão.

Em quinto lugar, os outros quatro usos do NT de “pré-conhecer” e os dois usos de “pré-conhecimento” não carregam confortavelmente as conotações de “pré-amar” e “escolher de antemão.” At 26.5 e 2Pe 3.17 não fazem referência ao pré-conhecimento de Deus, mas claramente se referem ao conhecimento prévio. Rm 11.2 se refere ao pré-conhecimento de Deus de Israel como nação e não a qualquer indivíduo dentro dele. O contexto sugere que Paulo está se referindo ao conhecimento prévio de Deus da rebelião e idolatria de Israel. A despeito do fato que ele pré-conheceu todos eles (veja 9.22, 27-29; 10.16-21), nunca foi seu plano rejeitar seu povo completamente.

Em 1Pe 1.20 Cristo é aquele pré-conhecido desde a fundação do mundo; e no contexto, conhecimento prévio, não escolha, é o significado preferido. O contraste é entre o oculto e o revelado. Ainda que o Pai conhecia desde a fundação do mundo que Cristo o Filho seria nosso Redentor, ele não revelou até os últimos dias.

Os dois usos do substantivo “pré-conhecimento” são igualmente consistentes com o entendimento não-calvinista de “pré-conhecer” em 8.29. 1Pe 1.1-2 diz que os escolhidos (são escolhidos) de acordo com o pré-conhecimento de Deus Pai. Dessa forma, uma clara distinção é feita entre pré-conhecimento e escolha, e não há nenhuma razão para ver no pré-conhecimento alguma coisa diferente de seu significado básico de conhecimento prévio. Assim, a relação entre o pré-conhecimento e a eleição aqui é exatamente o mesmo que aquele entre pré-conhecimento e predestinação em 8.29.

At 2.23 se refere ao pré-conhecimento de Deus Pai; seu objeto é Jesus Cristo e as circunstâncias de sua morte. Jesus foi entregue “pelo determinado conselho e presciência.” “Determinado conselho” é equivalente a predestinação; a NASB traduz “plano predeterminado.” Isto é, Deus já tinha determinado desde a eternidade que Cristo morreria por nossos pecados. Que ele foi entregue “de acordo com o pré-conhecimento” significa que Deus pré-conheceu todos os atos humanos de participação na traição e morte de Cristo, tais como o de Judas e Herodes. Deus não predeterminou estes atos, mas ele os conheceu de antemão e portanto podia realizar seu plano em conjunção com eles e através deles.

Algumas vezes os exegetas calvinistas tentam igualar pré-conhecimento a plano predeterminado em At 2.23, apelando para uma regra da gramática grega. MacArthur assim (I:496) argumenta:

De acordo com o que estudiosos do grego referem como a regra de Granville Sharp, se dois substantivos do mesmo caso (neste exemplo, “plano” e “presciência”) são conectados por kai (“e”) e têm o artigo definido (o) antes do primeiro substantivo mas não antes do segundo, os substantivos se referem à mesma coisa.... Em outras palavras, Pedro iguala o plano predeterminado de Deus, ou a preordenação, à sua presciência.

Wuest (143-4) coloca quase exatamente da mesma forma, que em tal caso o segundo substantivo “se refere à mesma coisa” que a primeira; portanto At 2.23 mostra que a predestinação e o pré-conhecimento “se referem à mesma coisa.”

Este argumento, entretanto, é seriamente falho. Ambos, MacArthur e Wuest, citam equivocadamente a regra de Sharp. A regra não diz que os dois substantivos na construção descrita acima “se referem à mesma coisa.” Ela diz somente que em tal caso o segundo substantivo “sempre está relacionado à mesma pessoa que é expressa ou descrita no primeiro substantivo.” Há uma enorme diferença entre estar relacionado com a mesma pessoa (ou coisa) e se referir à mesma pessoa (ou coisa). Carson diz que é uma falácia exegética supor que a última ou estrita forma da regra de Sharp tem validade universal. Ele diz, “Se um artigo rege dois substantivos ligados por kai, isto não significa necessariamente que os dois substantivos referem-se à mesma coisa, mas apenas que estão agrupados para funcionar de certa forma como uma entidade única.” (Os Perigos da Interpretação Bíblia, 78).Também, Sharp afirma sua regra como aplicável somente a pessoas, não a coisas. Como um estudioso do grego diz, “Substantivos impessoais desqualificam a construção;” ele cita At 2.23 como um exemplo específico disto (Young, Greek, 62).

Em conclusão, a superioridade da evidência mostra que “pré-conhecimento” não é equivalente a eleição ou escolha, e que em 8.29 ele se refere a nada mais do que o ato cognitivo pelo qual Deus conheceu ou identificou os membros de sua família (como distinto de todas as outras) ainda antes da fundação do mundo. Ele os indentificou pelo fato de que eles eram (seriam) aqueles que cumpriram (cumpririam) as condições exigidas para a salvação. Conhecendo através de sua onisciência divina quem estes indivíduos seriam, nesse mesmo momento ele os predestinou para serem participantes de sua família celestial glorificada através da ressurreição dos mortos após o padrão estabelecido pelo irmão primogênito, Jesus Cristo.

Tradução: Paulo Cesar Antunes

Fonte: Romans 1-8
[1] Para um tratamento mais completo da predestinação, veja GRu, cap. 9 (pp. 299-329).
[2] Igualmente Cranfield, I:432; Hendriksen, I:283-4; Bruce, 176.[3] Igualmente Lenski, 561; Murray, I:319; Moo, I:571; Lard, 282-3.[4] Proginosko "não é a previsão da fé que causa a distinção, e sim o conhecimento prévio que a faz existir.... Trata-se de um soberano amor distinguidor" (Murray, Romanos, 346).[5] Para esta equação de pré-conhecido e pré-amado, veja também Hendriksen, I:283; Moo, I:569; Stott, 249; MacArthur, I:496.[6] Contudo, não é o mesmo que a própria predestinação, contrário à crítica de não-calvinistas como Godet (324) e Lenski (560). Como os calvinistas veem, "eleger ou escolher de antemão" significa que Deus está simplesmente selecionando aqueles que ele irá abençoar, enquanto "predestinar" significa que ele está determinando exatamente como ele irá abençoá-los (Murray, I:318; MacArthur, I:497; veja Cranfield, I:432). Assim, a equivalência pré-conhecimento e eleição não torna a predestinação redundante.[7] Veja também Cranfield, I:431; Dunn, I:482; Morris, 332; MacArthur, I:495.[8] "Conhecer" tendo uma pessoa ou pessoas como seus objetos ocorre neste sentido 80 vezes pelo menos. Alguns exemplos são Mt 11:27; 14:30; 17:12; 26:72, 74; Lc 7:39; 10:22; 13:25, 27; 24:16, 31; Jo 1:10, 26, 31; 33, 48; 7:27-28; 14:7, 9, 17; At 7:18; Rm 1:21; 1 Co 13:12; Hb 10:30; 1 Jo 4:2, 6.[9] Alguns exemplos desta conotação são Mc 1:24, 34; At 19:15; 1 Co 1:21; 16:12; 1 Ts 5:12. Isto corresponde a quase todos.[10] Exemplos são Jo 17:3; Fp 3:10; 2 Tm 1:12; Tt 1:16; 1 Jo 2:3, 4, 13, 14. 


FONTE: Arminianismo.com 


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